À guisa de introdução. Este trabalho será provavelmente um dos capítulos finais de livro sobre as raízes da corrupção. Está dividido em itens, assim: 1 — Patriarcalismo em duas épocas da história do Brasil; 2 — Alguns vícios no patriarcalismo; 3 — Fatos dos nossos dias; 4 — Raça, cultura, estrutura; 5 — Novo surto educacional; 6 — Novos valores a encontrar ou reencontrar; 7 — Algumas outras lições da história pátria. 
Cada item leva, em itálico, a chamada sobre um subitem. O intuito é tornar menos pesada a leitura. Eia, pois.
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1 — Patriarcalismo
Algumas  das características do patriarcalismo da antigüidade, com pontos e  linhas a partir pelo menos do primeiro livro da Bíblia, vieram com o  catolicismo para o Brasil Colônia. O caso do senhor de engenho, de gado e  de café é típico (Casa-Grande & Senzala, páginas 34, 36, 51, 421,  435, 456, 540, 556 etc.).[1]  E estas prevalecem, ao menos inconscientemente, hoje: admitir alguma  inferioridade psíquica e social da mulher (já esconjurado como  machismo), o culto ao homem de prestígio — dotado de poderes (religioso, político, econômico, jurídico), capaz de exercer influências.   
Cumpre,  no Brasil, distinguir entre praticado no período colonial (e em parte  da monarquia) e o patriarcalismo atual ou de sempre. Nesta segunda  concepção vem a ser o mesmo tronco de vício ou fraqueza humana — a  vontade de dominação, o tratamento da pessoa como coisa, quer dizer, é a  planta do orgulho, da soberba, do falso sentimento de superioridade.  Entram aí todas as ramas do egocentrismo falseador de realidades, como  vaidade, a prepotência, a petulância, o autoritarismo, o modo animal de  ser no relacionamento humano. 
No tocante ao  conceito clássico da história brasileira, Sérgio Buarque de Holanda  discorda do conceito de patriarcalismo, como o apresenta G. Freire [2]: 
“[...] no patriarcalismo brasileiro nota o sr. Gilberto Freire "uma tendência para o traje se uniformizar no do adulto respeitável - onde os meninos de roupa de homem, cartola e bengala que Rendu achou parecidos com as marionetes das feiras francesas - e as meninas vestidas desde cedo como senhoras...." (pag. 246). Assim, o que para um francês do século XIX já pertencia a um passado morto, ainda sobrevivia entre nós e ganhava sabor exótico. Mas não era certamente fruto especifico de nossa civilização patriarcal. A forma da sociedade brasileira, se tivermos de aceitar noção tão violentamente realista, como essa que nos propõe agora o sr. Gilberto Freire - realista menos no sentido da sociedade atual do que da teologia medieval - não foi suscitada na área da cana de açúcar, ou em outra região brasileira particular; mais plausível é acreditar que veio acabada de Velho Mundo, adaptando-se aqui, mal ou bem, às circunstancias geográficas, étnicas, econômicas, próprias às diferentes áreas, e assumindo, em cada uma, feição diversa. O alfa da constelação de regiões tão claramente diferenciadas entre si, que se formaram nesta America portuguesa, estaria, pois, na Europa lusitana e ibérica, não no mundo da casa grande e senzala ou em alguma outra área regional da colônia. É claro que qualquer pronunciamento decisivo, neste ponto, há de colorir-se fortemente de noções subjetivas e amparar-se, em ultima analise, sobre simples preferências pessoais. Não creio, porém, que para a inteligência de nosso passado e de nosso presente, seja forçoso admitir um principio formal tão elástico, próprio para lisonjear esta ou aquela vaidade regional, servindo a sentimentos, ressentimentos, paixões, preconceitos, conveniências às vezes momentâneas e quase sempre polêmicas. À obra do sr. Gilberto Freire ela nada acrescenta de duradouro. Nem serve certamente, aos seus adversários, quando se apóiam no mesmo critério, embora movidos por sentimentos regionais diversos dos seus”.
O que se há de dizer. Uma característica marcante desse tempo, e desse regime ético e jurídico, é a falsa superioridade do paterfamilias. Era o chefe do grupo familiar e, mais, era o dominus quase absoluto — o dono dos outros homens e das outras mulheres. Esta superposição, este superpoder tem o impulso psicanalítico do egocentrismo, origem dos males humanos. Ao se dizer mal cumpre afastar o subjetivismo. Seria uma discussão sem fim e sem resultado, desfilando nela concepções filosóficas em luta incessante, velha e cansativa. 
Bem e mal. Este  é o tema universal. A separação bem-mal veio a acentuar-se  explicitamente com os estudos do persa Mani, donde o termo e o conceito  de maniqueísmo. [3]  A referência é o ser humano, já que se trata de estudar o bem e o mal  no homem. Animal o homem, sim, também é. A diferença entre o homem e o  animal bruto está na capacidade humana de raciocinar e de dedicar-se aos  seus semelhantes. Em termos populares expressivos: capacidade de pensar  e amar. O bruto é incapaz desses dois feitos, de modo que a dignidade  humana consiste nessa sua capacidade inata, presente em grandíssima  parte da Humanidade toda. O reconhecimento dessas qualidades equivale à  enunciação da dignidade e, pois, de ser bom e ser mau. Bom é o digno  especificamente humano; mau o indigno humano. As ações mais conducentes à  dignidade humana são boas, são moralmente melhores; ruins, moralmente  piores, são as condutas deteriorantes desse nível de vida. 
Isto  significa que em muito se reduziu a dignidade nas relações humanas com  os vícios dos ricos absolutistas de Brasil Colônia e de Brasil Império. O  escravo era instrumento de trabalho, como os animais domésticos. A  mulher era instrumento de procriação, ou de deleite sexual. Fora de  valorização estava a sua dignidade específica. Assim, a quase nada se  reduziu a vivência democrática naqueles círculos sociais. A liberdade,  física e psíquica, era um quase nada. Nenhuma era o senso de igualdade —  tudo era escravidão, ou servidão. 
Ou  seja, era a vida humana em trapos de atraso humanitário —  deteriorou-se, danificou-se, adulterou-se, desperdiçou-se, estragou-se;  numa palavra, corrompeu-se. 
Alimentação brasileira. Ela  teve influência na formação social do nosso país, afirma G. Freyre, sem  que daí se excluam também o clima e a miscigenação. O fato é que o  solo, com as suas propriedades físicas e químicas, determinam o tipo de  vegetação espontânea. Com a monocultura, veio a deficiência das fontes  naturais de nutrição. O regime escravocrata e latifundiário tornou ainda  mais complexa, e difícil de combater, essa fonte de desnutrição.  Seguiu-se daí o mau desenvolvimento físico e a pouca eficiência  econômica de muitos brasileiros.  Foi de apoucado  efeito o fato de esse tipo de economia ter dado alguma estabilidade ao  Brasil Colônia. As fontes de nutrição e vida ficaram pervertidas. Os  negros das senzalas, contudo, eram instrumentos de produção. Somente por  causa disso eram mais bem alimentados. Saíram fortes e sadios, atletas  de capoeiras, de lutas e marujos. A população média era livre, mas  fisicamente débil: anemia palúdica, beribéri, verminoses, sífilis etc. 
Essas  causas sociais influíram no Brasil de hoje, pensamos, porque essa  economia danosa ocorreu também depois na economia do gado e do café. É  ainda grande o número de brasileiros subnutridos (desigualdade social  grave). 
Outra  herança ruim proveniente do Brasil Colônia e do Brasil Império, bem  como grande parte da República, é a não-existência de “povo” (p. 96-97).  Temos de dizer que este enfraquecimento das grandes  massas (povo) é uma fonte de corrupção. Quem mantém a situação de poder  pelo poder, despreza o povo. Sem o controle popular, as autoridades  abusam do poder contra as pessoas mais simples da população. Do mesmo  modo fazem outros poderosos. É uma situação propícia à corrupção. Longe  estava o Brasil da regra jurídica constitucional pela qual todo poder  emana do povo.
Outras notas típicas. De todo modo, algo procede numa e noutra concepção, de Gilberto Freyre e de Sérgio Buarque de Holanda (supra).  Esse realce do masculino (o pai é o pai e é também o dono) dá, mais ao  homem que à mulher, a falsa idéia de haver entre seres humanos o direito  à altivez — convicção subjetiva de ser um ente superior ao comum das  pessoas (soberba) —, direito aos atos de traição dos princípios de  dignidade, à otimização para si de bens públicos (avareza), à ira contra  os seus opositores etc. 
Um ligeiro exemplo dessa herança cultural surgiu, em 2001  na Câmara, e em 2003 no Senado. É como se a estrutura jurídica de  outrora ainda não houvesse mudado. Foi recentemente com a assim chamada verba indenizatória: 
 [...]  um escândalo antigo a verba de R$ 15 mil por mês que cada congressista  pode gastar. O assunto foi renovado pelo caso Castelogate - o do  deputado Edmar Moreira,  que usou o dinheiro para pagar serviços supostamente prestados por  empresas de sua propriedade. As notas fiscais sempre foram guardadas em  segredo. O que aconteceu? Quase nada. As notas fiscais antigas continuam  secretas (apesar de essa opacidade ser inconstitucional) nas Casas  presididas por José Sarney e Michel Temer.  Na prática todos os congressistas que cometeram delitos nos últimos 8  anos foram perdoados. De abril de 2009 para a frente, em tese, tudo será  divulgado. Até agora, muito pouco apareceu para ser verificado. [4]
2 — Alguns vícios no patriarcalismo.  Está configurada aí a avidez por dinheiro com algum intuito político  (favorecimento de alguém, busca de prestígio, vaidade em exercer  influência sobre outras pessoas etc.). Junto, o interesse em aumentar o  seu próprio poder (político geral ou sobre certo grupo). De qualquer  modo trata-se de um desejo egotista, incontido e intenso. Os agentes não  têm o comando sobre o surto do impulso. Esta a raiz capital da sua  corrupção porque manda neles, com prejuízo do Povo, o egotismo não  curado.
Pouco apreço histórico pela alma feminina.  A negra servia como instrumento — de trabalho e de sexo. As brancas  eram abertamente uns como que sacos de filhos. Até aos 14 anos, lindas  as mais das vezes. Feito o casamento aos 13 anos, com 18 já tinham  perdido os encantos e eram velhas aos 20 anos — desdentadas,  esbranquiçadas, ou muito gordas ou magérrimas. Estas pela pouca saúde e  as gordonas por falta de exercício físico (mesmo para a caminhada  comum): ambas jovens e moleironas, até trôpegas mesmo — por menor que  fosse o trajeto, eram transportadas pelas escravas em redes ou em  liteiras. Mesmo dentro das igrejas, até o proibirem alguns bispos do NE.
A  cultura dada à mulher era quase nenhuma. Muitas eram analfabetas e sem  modos no trato — cuspir no chão, escarrar para os lados, muito mau gosto  no modo de se vestirem e de ostentarem diamante, ouro e prata no corpo  (páginas 489-491). 
Foi  este o ambiente da mulher no Brasil durante cerca de três séculos. Não  se percebem, de parte do homem com ela, sinais de cuidado, carinho,  ternura, afeto. Fica a hipótese de atualmente a mulher querer o máximo  de liberdade sexual, quiçá em decorrência da lei psicanalítica da  “compensação”. Sabe-se que tal só ocorre quando alguém ou 1º em processo consciente se  esforça para contrapesar defeitos reais ou fantásticos, seja no  referente ao físico, ao desempenho, às habilidades ou aos atributos da psiké (sentido psicológico); ou 2º vai à busca involuntária de mecanismos de defesa que, atuando inconscientemente, lhe permitem contrabalançar, ou afastar de si, o sentimento de deficiências, reais ou imaginárias  (compensação em sentido psicanalítico). Parece certo que a compensação  psicanalítica traz perigos de enfraquecimento da pessoa. Fraca esta, sem  o poder interior de autodomínio ou comando pessoal, será provavelmente  corrompida com facilidade e até quiçá um agente de corrupção.[5]
Um exemplo. Vamos  a um exemplo, que vem confirmar o sobredito. Falamos do desdém pela  permissividade, que pode ser uma causa de corrupção. Pense-se no caso da  aluna da Universidade Bandeirantes (São Paulo); em 2009 se vestia com  saia curtíssima e requebrava pelos corredores da instituição, mesmo  depois de advertida verbalmente. Atraiu a ira dos colegas homens.  Maltrataram-na indevidamente. Tinham de ser punidos, é certo. A maioria  das pessoas que opinaram sobre o caso condenou apenas a universidade e  os colegas da moça de 20 anos. A esta defenderam com unhas e dentes.  Brincar com a sensualidade fora de limites de cada ambiente é, porém, um  desvio de personalidade da própria mulher — a mulher de baixa  auto-estima — porque a maioria dos grupos sociais querem cada coisa a  seu tempo, espaço e modo em matéria de sexualidade. A luxúria assim  manifestada é um dos vícios capitais. E, pois, corrompe embora pareça  simpático insistir acriticamente na indefinida e quase ilimitada  liberdade individual da mulher. Exsurge o conflito do “Eu versus outros”.
Luxúria: degradação sexual e dominação. O  aumento da sensualidade entre os negros do Brasil resultou em grande  parte da própria dominação que os senhores brancos exerciam sobre eles  (p. 515). 
 É  bem possível, dizemos nós, que esse fenômeno se deva à necessidade de  descarga dos sentidos, uma maneira de se fugir, no seu tanto, das dores  físicas e morais da dominação pela força. De modo que as duas raças mais  atrasadas foram degradadas pelo domínio do branco, mais adiantado na  cultura ocidental. A procriação de mulheres degradadas pelos brancos,  também eles cheios de vícios ou fraquezas, foram fatores perigosos para a  moralidade sexual: era, em grande parte, um pura descarga de sentidos,  sem avançada sensibilidade do homem para com a mulher e vice-versa. A  moleza dos ricos era também aumentada pelo trabalho escravo. Alguns dos  senhores nem sequer andavam: eram carregados em redes ou em palanquins.  Ajudavam-se de escravos e escravas até mesmo para se vestirem, calçarem,  abotoarem as roupas, limparem-se, lavarem-se e em outros atos  comezinhos de higiene íntima. Essa riqueza excessiva calcada sobre o  trabalho escravo fez cada vez mais lânguida e morosa a vida dos  aristocratas do açúcar. Depois, também os senhores do café e do gado. No  século XVIII os pilares da economia brasileira eram açúcar e escravos,  sobretudo no nordeste atual, com mais ouro e diamantes, sobretudo  em  Minas Gerais. Não há negar, portanto, a origem pouco gloriosa dessas  riquezas, altamente aproveitadas pelo império português. Quanto à  importação de escravos africanos a média anual terá sido de 7.500 na  década de 1660 e duplicou ou até triplicou no final do século XVIII; em  1755 só de Angola vieram para cá 13.534 negros. Assim, numa estimativa  de probabilidades, no período compreendido entre 1700 até 1820 foram  importados pelo império português para o Brasil cerca de dois milhões de  escravos.[6]
Luxúria e avareza. Continuemos  a estudar o trabalho de G. Freyre. Diz ele a o clima quente pode ter  contribuído para aumentar a lubricidade e languidez desses brasileiros.  Mas não as criou nem produziu. Essa prosperidade enriqueceu muito os já  ricos, porque o açúcar do nordeste era de alta qualidade. Daí a usura e  os ganhos a aumentarem sempre, lícita ou ilicitamente, com [...]  ladroíces, roubos [...], as brigas ferimentos, mortes [...] os estupros e  adultérios [...], certo ainda que “o dinheiro fazia suspender os  castigos...” (p. 515-517 e nota 44 da pág. 558). Esses males prazerosos  eram capitalizados pelos patriarcas e seus asseclas, portugueses e  brasileiros. Corrupção.
Luxúria  vem a ter quase o mesmo significado de incontinência, lascívia,  sensualidade desbragada, tudo isto em matéria de sexo. É elemento da  luxúria a necessidade desregrada de fortes doses de prazeres individuais  retirados ao corpo de outrem, tratando-se este como objeto de serviço  íntimo da sexualidade solta. Há modalidades diversas como a pedofilia, o  masoquismo, o sadismo, a zoofilia. A luxúria pode aproximar muito o  animal homem do animal bruto e, pois, diminuir nele a capacidade  entendimento e de auto-doação (se nos permitem o termo).  As  energias interiores dissolvem-se. A linguagem comum oferece também o  termo “dissolução” como sinônimo de luxúria. E há mais. Com esta  modalidade de fraqueza tanto homens como mulheres precisam de uma mal  entendida “liberdade” donde, por causa de tamanho individualismo  egocentrista, exsurge estoutro sinônimo — “libertinagem”. Alguns  senhores de engenho dominados pela sede de prazeres e de soberba ou  orgulho mantinham o intercurso sexual dentro das redes levadas por  escravos, outros viciavam no sexo passivo meninos de tenra idade. Estes,  por sua vez, freqüemente eram iniciados cedo na prática da sexualidade.  Alcançados os vinte anos, ou bem menos, já estava grande parte deles  coberta de doença venérea. 
Uma  das fontes dessa degeneração era (e é) o espírito dominado pela ânsia  de poder sobre outrem, ou seja, os vícios ou fraquezas de soberba,  vaidade, autoritarismo, arrogância — a inspiração do patrimonialismo —  triunfam sobre a racionalidade humanista. A subjetividade corrompida  cerca as outras pessoas, atropela-as e salta sobre limites conaturais à  natureza humana.
Soberba.  É o aproximadamente o mesmo que orgulho excessivo (desmedido porque  infundado segundo a própria natureza das coisas), altivez (pensar-se  como um ser mais alto em qualidades e dotes do que outrem), arrogância  (atrevimento, petulância, audácia, insolência), presunção (o soberbo pré-toma  a si como melhor que “o resto da plebe ignara”), sobrançaria: é o  sentir-se e o consentir na concepção de ser o importante senhor, o  patriarca, a pessoa proeminente situada (“acima da carne-seca” como diz o  vulgo).
Egotismo e soberba. Diz  a tradição cristã que a soberba é a geratriz de todos os vícios. A  pessoa pensa-se a si como superior, acima dos outros membros da  sociedade. A ciência aprofundou o estudo dessa classe de vivência. Temos  de dizer hoje que a geratriz mesma de todos os hábitos destrutivos é  uma atitude ainda mais geral de avaliação pessoal. Falamos do egocentrismo. O ser egocêntrico, patriarcalista, pensa-se e sente-se como um centro  fundamental de importância. Os outros membros da sociedade precisam  estar ao seu redor, como que a prestar-lhe atenção e homenagem,  decorrentes dos valores pessoais do egocêntrico, valores que seriam a  medida das qualidades e prerrogativas humanas. 
Espanta  observar esta classe de pessoas. Esperam elas de parte de toda a gente a  mesma reação admirativa que nutre por si própria. Para curar-se  precisam da clássica meditação, que as religiões ensinam há séculos. Nem  é o bastante para muitos. É-lhes imprescindível a psicoterapia por isso  que o comportamento egocêntrico é fonte de distúrbios de comportamento  (e de conflitos). O egocentrismo forja um hábito mais arraigado na vida  psíquica que o simples egoísmo; este é mais isolado, superficial e  passageiro. O egoísta pode, por vezes, praticar atos de desprendimento.  Prende-se, de outro lado, a atos buscados só em seu benefício, que podem  estar justificados e ser aceitos pelos membros do círculo social a que  pertence. Tal o caso de preferir satisfazer-se a si próprio que aos  outros em matéria de saúde, na vitória de um certame, no tempo que vai  dedicar-se ao mimo dos seus sentimentos de tristeza etc. [7]
O  egocentrismo é bem mais penetrante e alargado. Neste estilo de vida  alguém erra permanentemente na avaliação de si mesmo em relação às  outras pessoas. O atual patriarcalista gira em torno dos valores que  pensa ter. Vive um estilo de comportamento continuado com um hábito  inserido mais ao fundo do psiquismo.[8]
Impulsos de maldade. Os  meninotes e as mulatas foram vítimas de agressões de pessoas  verdadeiramente sadistas durante o patriarcalismo brasileiro clássico.  Era essa, assim, a tendência do brasileiro criado na casa-grande dos  engenhos. Esses meninos procuravam instintivamente defender-se.  Adquiriram o “hábito da faca de ponta”, desde o início da colonização.  Essas crianças ou adolescentes eram precoces em participar das  preocupações dos adultos, preocupações que se prendiam a eventuais  ataques surpresas dos índios e de animais selvagens. Um contraponto  perigoso para esse crescimento, na maldade e na preocupação dos adultos,  foi o acúmulo de prazeres em geral, mas sobretudo, “os do sexo”. Essa  força do instinto não era bem dirigida. Firmava-se na hereditariedade e  no ambiente. Terão influído na formação do “caráter nacional” estes  arroubos repentinos que psicólogos da metade do século XX já denominavam  “reflexo prepotente”, “necessidade viscerogênica”, “hábito dinâmico”,  “motivo”, “desejo”, “interesse” (p. 462 e 465).  
Acresce  a esta modalidade de violência o fator do medo; a criança indígena  recebia formação específica à base dele (p. 199). Nas escolas havia o  uso do castigo físico. Tal era o caso de ajoelhar-se o aluno desatento  sobre grãos de milho, receber palmatória até ficarem vermelhas as mãos,  ficar de braços abertos por largo tempo (página 507-508). [9]
3 — Fatos dos nossos dias (1).  Até mesmo por algum desconhecido atavismo se pode pensar em explicações  a respeito da violência de crianças e adolescentes, entre si e com  outrem. Realizou-se pesquisa em São Paulo sobre o assunto no período de  1988 a 1991. Entre outros dados, consta a quantificação de ocorrências  policiais praticadas por jovens na cidade de São Paulo. [10]  São os jovens infratores situados na faixa etária de 12 a 18 anos  incompletos. A amostra compreendeu 3.794 adolescentes infratores. Em  média, cada jovem revela a taxa de 1,4 passagens. De notar-se, contudo,  que 
[...] a criminalidade juvenil violenta é menor do que criminalidade juvenil não-violenta. Só 34,14% se qualificam como infrações violentas. As infrações violentas compreendem: roubo (15,58%), porte de arma (6,90%), agressão (6,82%), tentativa de roubo (2,29%), homicídio/tentativa (1,28%), tráfico de drogas (0,71%), estupro/tentativa (0,59%), latrocínio (0,30%), seqüestro (0,08%). O roubo é a infração de maior peso na composição da criminalidade violenta juvenil. As ações não-violentas compreendem: furto (23,04%), dirigir sem carteira de habilitação (9,38%), tentativa de furto (6,86%), uso de drogas (4,33%), atos sexuais (1,4%), estelionato/tentativa (1,38%), participação em quadrilha (0,19%) e diversos (17,83%). [...]
a criminalidade violenta juvenil é pouco mais baixa do que a criminalidade na população em geral. Entre os jovens representa 34,14% (média no período como um todo). Na população em geral, representa (37,57%). Tudo indica que os padrões de comportamento delinqüente juvenil acompanham padrões na população [...]
[...] no mundo do crime organizado [...] 56,90% das infrações cometidas por jovens. Mas, é igualmente significativo o percentual de jovens (43,01%) que agem sozinhos, [...]
Constatou-se como perfil-padrão de delinqüente juvenil, o jovem branco, do sexo masculino, 15-18 anos incompletos, natural do Estado de São Paulo, com primeiro grau e não ocupado em alguma atividade. [...] é significativamente menor o número de jovens autores de infração penal violenta face ao número de jovens vítimas de assassinatos [...]
Fatos dos nossos dias (2). Reportagem trazida pelo jornal Folha de São Paulo,  Caderno Cotidiano, constam os resultados de duas pesquisas diferentes,  havidas por sociólogo da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro),  como "extremamente preocupantes".   Umas passagens são:
[...] A maioria (55%) diz ter visto corpos de pessoas assassinadas nos últimos 12 meses e 30% relatam que já foram vítimas de algum tipo de violência. [...]
[...] Para o menino Saulo (nome fictício), 13, que mora na favela Jardim Filhos da Terra, na zona norte da capital paulista, assistir a assassinatos virou "coisa comum". [...]
[...] 30% dos jovens se encontram na faixa dos que estão em constante contato com a violência - eles freqüentemente são agredidos (muitos pela família), vêem ações violentas (como assassinatos e agressões policiais) ou têm acesso facilitado a armas de fogo, entre outros aspectos. Na capital paulista, 13% dos entrevistados disseram já ter testemunhado um assassinato.
"Quando  o jovem está exposto à violência, se ele tiver um problema na aula,  depreda a escola. Se não gosta que mexam com a namorada dele, mata. Esse  é o repertório dele" [...] 
[...] Em SP, crianças brincavam de contar corpos [subtítulo].
Já vi meninas de dez anos oferecendo o corpo por R$ 5 no Acre, já vi meninos de quatro anos trabalhando num garimpo de Rondônia, mas a coisa mais violenta que já vi crianças fazendo ocorreu no Jardim Ângela, no extremo da zona sul. Chamavam de “brincadeira”. Acordavam bem cedo e saíam à procura de cadáveres à beira da represa de Guarapiranga - um menino de 12 anos se dizia o recordista: encontrara três numa manhã. O episódio ocorreu no final dos anos 90, quando São Paulo batia recordes de mortes violentas e o Jardim Ângela era o pior dos mundos. [...]
[...] No Jardim Ângela, também havia traficantes, mas o maior número de mortes era relacionado a vinganças banais ou encomendas de comerciantes contra ladrões. Com a melhora econômica e ação da polícia e de ONGs, a taxa caiu - em 2007, foram 26,6 mortos por 100 mil.[11]
Fatos dos nossos dias  (3). Cumpre notar, pensamos, que nos resta ainda parte da herança do  trabalho escravo. Precisamente no campo da cana de açúcar, ao modo do  velho NE. Também em 2009 a imprensa publica situação de trabalhadores  próximos ao trabalho escravo. Leiam-se partes da notícia. [12]
530 empregados em condições degradantes 
Em Minas, força-tarefa interdita seis fazendas de multinacional francesa LDC. Trabalhadores não tinham água potável, banheiro e equipamentos de proteção de qualidade; [...]
[...] fazendas de cana-de-açúcar arrendadas pela multinacional francesa LDC (Louis Dreyfus Commodities) em quatro municípios de Minas Gerais.
Dez fazendas foram fiscalizadas por uma força-tarefa de Polícia Federal, Ministério do Trabalho e Ministério Público do Trabalho. Seis foram interditadas, além da usina de açúcar e álcool da companhia em Lagoa da Prata (MG). A LDC também tem usinas em SP, MS, RN e PE, administra no Brasil 340 mil hectares de terra e emprega cerca de 20 mil pessoas.
[...]  O Ministério Público do Trabalho apresentou à LDC uma proposta de Termo  de Ajustamento de Conduta, com pedido de indenização de R$ 2 milhões  por danos coletivos. Foram fiscalizadas fazendas em Lagoa da Prata, Luz,  Iguatama e Bambuí. Os trabalhadores em condição irregular não eram diretamente vinculados à LDC, mas a empresas terceirizadas.
O sistema econômico. O  interesse de lucro era atendido com a acumulação de muita riqueza e com  o capital concretizado na cana-de-açúcar. Neste sistema já se desgarra  um forte egocentrismo. Advirta-se que, em matéria de costumes (comida e  sexo), a casa-grande era verdadeiro antro de corrupção. O próprio  casamento aristocrático levava em conta, na escolha feita pelo pai, do  noivo que ia casar-se com a donzelinha, levava em conta, repito, a  capacidade procriadora dele. A mescla era contraditória porque os  senhores de engenho mantinham o exterior de uma grande religiosidade (p.  290, 389, 530, 559, 520-521)
Pertencer a uma família “importante”.  Na história do Brasil houve famílias que perderam o brilho balizado no  empréstimo de dinheiro. Muito gasto com lastro impensado esvaziou cofres  poderosos. “Pai rico, filho nobre, neto pobre”, uma desgraceira. [13] 
Em  São Paulo do século XX muito se apreciou a família “quatrocentona”,  cujo nome remonta ao Brasil Colônia. Isto é algo que se pode herdar...  Herança cultural por vezes destrutiva. A perda de prestígio pode  suscitar o fenômeno da compensação psicanalítica negativa, isto é, a que  se dá com a busca de remendos artificiais, com falsos expedientes de  vanglória (esta uma considerável parte da soberba) para contrabalançar  perdas pessoais. Um desses artifícios pode ser a sede de mais dinheiro  compensador. Se falharem princípios éticos aprofundados, que só a  interioridade é capar de fortalecer, sobrevêm em conseqüência os atos de  corrupção. 
Um exemplo.  Há o caso, talvez emblemático, da família Sarney: arranjos de José  Sarney, presidente do Congresso Nacional — empregos públicos para  parentes (nepotismo) e mesmo para a namorada de neto. Eis aí é um modo  infundado de prevenir a queda social dos descendentes. Ato de corrupção,  porém, porque rompe alicerces, colunas e vigas da personalidade, corrói  os tecidos da saúde do organismo do indivíduo. Quando se espraia essa  cultura, não importa a raça, é como câncer — devasta os elementos de  estruturas (religiosos, morais, jurídicas, políticas) constitutivas da  dignidade. 
Novamente a soberba.  O mau hábito da soberba é um desses impulsores, que tanto se via no  patriarcalismo do senhor de engenho. Este mesmo complexo de  superioridade vem a realizar-se por via de uma necessidade de o  prepotente estar sobre outrem. Aparece igualmente na política estatal. Também na política internacional (desde pelo menos Bismark) com o conceito de “Realpolitik”. Leva no seu bojo o  sentido degradante de tipos efetivos de relações humanas coercitivas,  maquiavélicas, dominadoras — com artimanhas ou com veladas ameaças  (quando necessário, com atos práticos prejudiciais). 
As  raízes da soberba ou orgulho vão fundo e dão frutos podres em grande  número. Tais desvios morais escancaram as portas à corrupção, nos três  poderes da república e em todos os entes estatais brasileiros — União,  Estados-membros, Distrito Federal, Municípios. Os exemplos  singularizados (particulares, determinados, “concretos”) são como que  inumeráveis.
Um caso sempre a surgir é o das propinas[14] recebidas de empresários corruptores por agentes políticos corruptos. 
[...] a  Camargo Corrêa pagou cerca de R$ 4 milhões em propina para conseguir  vencer duas licitações e para mudar a legislação sobre uma área no  município de Caieiras, na Grande São Paulo, no qual a construtora fez um  empreendimento imobiliário. [...] No caso dos cinco hospitais,  construídos em Belém, Santarém, Breves, Redenção e Altamira, Kahn diz  que papéis apontam que a suposta propina foi paga ao PT e ao PMDB. A Folha apurou que o PT aparece nos documentos como beneficiário de R$ 230 mil e o PMDB, de R$ 130 mil.
4 — Raça, cultura, estrutura.
Sobre  estes três temas, que Pontes de Miranda não teve tempo de desenvolver  no tríptico a realizar-se com “Garra, Mão e Dedo” (dos três foi o único  tríptico publicado) e “Alcance, objetivo e fim” — sobre eles, repito —,  faremos agora algumas poucas observações.[15] 
Raça. O animal bruto tem raça, mas não tem cultura. Vejamos por que. Raça  é o conjunto biológico de marcas instintivas derivadas do sangue. O  modo e o ritmo de andar, dançar, caçar, correr, compor músicas, escolher  cores. Também a propensão maior ou menor pela ação imediata (não  programada), pela indolência, pelo trabalho, pelo tipo de união sexual,  pelo tipo preferido de atividade mental ou de divertimento ou crenças e  mitos. Etc. Houve quem achasse haver raça humana pura...
Cultura  indica aquele modo mais constante pelo qual foram adquiridos e  aprimorados certos dados de inteligência (com técnicas) e de  sensibilidade (com as habilidades correspondentes), tudo ao modo de  objeto de exercício de aprendizado, ambos sociais, e do seu acúmulo  partilhado entre os membros de certo círculo social, no correr do tempo e  nas mudanças espaciais. 
A ciência positiva  do direito revela um grau elevado de cultura — com ela a inteligência  alcança segurança maior na exegese da regra e na interpretação dos fatos  em função da realização justiça humana. O orgulhoso prefere a  facilidade do método racionalista: patina vaidosamente sobre idéias  gerais abstratas (=desvinculadas da responsabilidade perante o real da  vida). 
Estrutura é o conjunto  de linhas organizacionais das relações sociais de um círculo humano,  cuja ordem se formou, ou que se deseja venha a ser formada, de modo que a  estrutura, como anota Aurélio, 
[...] forma um todo coerente, que subjaz à variedade e variabilidade dos fenômenos empíricos, e é tomado como atributo interno da realidade, constituindo, por isso, objeto privilegiado da análise.
Assim, a estrutura  é outra à parte realidade, composta de hábitos ou já adquiridos, ou  apenas desejados. Os hábitos religiosos indicam uma maneira mais ou  menos constante de os indivíduos se relacionarem com o elemento divino  (o supra-sensível ou sublime); a linha de hábitos adotados para a  convivência diante do critério da dignidade da pessoa traz, no seu  conjunto, a estrutura moral do grupo. [16] Assim, analogamente é o hábito formado no gosto pela harmonia das formas (estrutura das artes), ou com as regras jurídicas (elas conferem a garantia extrínseca de ações e omissões dos “outros”) — estrutura  jurídica—, ou com o modo em que as forças específicas do poder no grupo  formam uma figura típica de pontos, linhas e orientação e dimensão (estrutura política); tal é o caso da relação entre o Povo e Estado nas suas três funções conhecidas a partir, sobretudo, de Montesquieu.  Estrutura é, ainda, o todo das normas mais ou menos instintivas pelo  qual a busca das utilidades materiais rege propensões e interesses  (produção, comercialização e serviços). Tem-se aí a estrutura econômica.
Corrupção há em todas as raças, culturas e estruturas.  É fato público e notório que a corrupção grassa mais em certos povos  que em outros, segundo a variação de diferentes pedaços de  Espaço-Tempo-Energia. Tentam-se dados sobre o assunto.[17]  E corrupção há no âmbito público e na vida privada, como no próprio  futebol europeu, conforme noticiado em 2009 em jornal de São Paulo sob o  título “Europeus escancaram megacaso de corrupção”: [18] 
A Uefa já classificou como o maior escândalo da Europa.
Um  esquema de manipulação de resultados no velho continente põe em dúvida  200 jogos. A polícia já prendeu 17 pessoas por causa do escândalo, que  atingiu a badalada Copa dos Campeões e a recém-criada Liga Europa, dois  nobres torneios interclubes da Uefa. [...] Este é, sem dúvida, o maior  escândalo de resultados arranjados que o futebol europeu já viu. Estamos  surpresos com a magnitude disso. E devemos fazer de tudo para assegurar  que árbitros, atletas e dirigentes sejam levados à Justiça", disse  Peter Limacher, especialista da Uefa para apurar fraudes. Polícias de  Alemanha, Reino Unido, Áustria e Suíça trabalharam simultaneamente no  caso, que rendeu 15 prisões na Alemanha e duas na Suíça. Mais de 50  propriedades foram investigadas, e 1 milhão ligado ao esquema de  corrupção já foi confiscado pelas autoridades. [...] 
A  operação policial começou meses atrás e contou com a participação de  300 pessoas na Alemanha. A cooperação internacional, que começou pela  Inglaterra, ajudou a desvendar o esquema, que fraudou jogos de primeira e  segunda divisões em países como Turquia, Bósnia-e-Herzegóvina, Hungria,  Croácia, Suíça, Áustria e Eslovênia. Estão sob suspeita 12 jogos da  Liga Europa, segundo Ralf Ziegler, da polícia de Bochum. A Copa dos  Campeões tem três jogos potencialmente "sujos".
Ora,  este é um caso típico da “raça branca e olhos azuis” da culta Europa.  Corrupção não escolhe raças. Não há aqui diferença entre elas. O mau  hábito tão antigo da sede por dinheiro — a velhíssima avareza  — pode destroçar qualquer delas, mostram os fatos. Na Alemanha vige uma  boa estrutura jurídica, mas neste caso foi em vão. O vício enraíza-se  na ventoinha do egotismo. 
Vira-e-mexe já ressurge a azafamada raiz, a vetusta gangorra, o oscilante pêndulo do “pecado original” — ego-alter. O indivíduo prefere-se à coletividade (aos outros, ao Alter) cedendo aos impulsos do Id porque o Superego ficou raquítico de tanto ceder à “lei do prazer” que o Id impõe com a sua instigação dominadora. O Ego já não tem o comando da pessoa. Está corrompido a fundo. Não é senhor e sim servo da avareza.[19] Prossigamos.
Avareza.  Equivale aos conceitos de desnorteado apego ao dinheiro, esganação ou  acumulação de ganhos materiais, sofreguidão por mais e mais poder de  compra, dependência psicanalítica da necessidade de riquezas materiais.  Daí a falta de generosidade, a mesquinhez, a maldade, a prática  freqüente dos atos da corrupção em sentido estrito — tomar o dinheiro do  Povo, retirá-lo dos cofres estatais para si, para parentes e parceiros.
Algumas conseqüências.  A mulher brasileira e o homem brasileiro provêm em sua maioria de raças  diferentes. Podem fundir-se numa só cultura, com variações toleráveis e  mesmo desejadas por todos porque enriquecem as mentes da pessoa. As  estruturas sociais hão de ser adequadas à consecução da ordem  pacificadora e da paz criadora. Exemplo típico é o “direito justo” —  porque o nosso sistema jurídico tem de atender a todas as violações dos  "direitos humanos", prevenindo e corrigindo deficiências. A corrupção  vai contra a democracia, as liberdades e a igualdade crescente. A  corrupção corre em sentido contrário à paz do país; diminui a esperança  de progresso do povo, da nossa gente.  A tarefa  urge. A nossa herança cultural de muita corrupção é longa. É bem  característico do patriarcalismo herdado do Brasil Colônia o costume de  ferretear de “comunista” ou “socialista marxista” a quem trabalha no  prol do crescimento em igualdade social incessante, para serem fortes e  prestantes todos os brasileiros. Justiça social. Passa-se  o mesmo com a busca de mais e mais vantagens e mantença de privilégios,  ativadas por agente público de todos os três Poderes.  
Algo sobre juízes e membros do Ministério Público do Brasil.  Quem já pertenceu a estas duas instituições conhece o quanto há de  carências éticas nelas por causa do histórico mandonismo patriarcal. Em  outros povos de regra não é tanto assim.
Férias e 13º salário. Em  nenhum país há férias para gozo individual no total de 60 dias ao ano.  Na Alemanha consta uma diferença: os magistrados têm os 30 dias para  descanso pessoal e mais 30 dias para estudo, cursos obrigatórios etc. Em  geral, pois, as férias pessoais são como as dos demais servidores  públicos na grande maioria dos países. [20] Nos demais povos não se paga o 13º salário a juízes.
Autoritarismo.  Vamos agora a casos de autoritarismo ocorridos com alguma freqüência,  não com todos, verdade seja, mas com bastantes. Esse autoritarismo é uma  modalidade de patriarcalismo porque, como antes, vinga a fraqueza da  soberba. 
(1)  Há os que se sentem “diferenciados”; não seriam iguais aos outros seres  humanos. Teriam preferência numa fila de espera — são mais que os  comuns dos mortais (porque têm a “caneta”...). (2) Não aceitam a  qualificação de “servidor público”, ou de “funcionário público”. No  máximo “agente público”. Isto apesar de o seu poder provir do Povo, e de  servirem ao Povo, pagos pelo Povo para exercerem as suas funções  públicas. (3) Incomoda a muitos deles conversar no fórum com os  funcionários mais simples: são “autoridade” e não uma gente menor, como  esses meros auxiliares... (4) Enquanto possível for, guardam distância  dos advogados — são mais que meros advogados, nas audiências e fora  delas... (5) Repelem os dados colhidos pela FGV: os juízes (e  promotores) figuram entre as profissões mais bem pagas do país.  Contestam a pesquisa dizendo ser a sua vida muito sacrificada,  esquecendo-se de que na vida empresarial estão os profissionais sujeitos  a fortes pressões psicológicas (até lhes causam doenças crônicas), não  contam com férias de 60 dias ao ano, carecem de qualquer das três  garantias desfrutadas pelos magistrados e membros do Ministério Público,  falta-lhes o direito à aposentadoria integral, não existe nas carreiras  públicas mencionadas a concorrência por cargos (com descarte do  perdedor, como por vezes na empresa privada acontece). (7) Esquecem-se  estes agentes públicos de que, sim, cumpre trabalhar para a  carreira ser atraente também do ponto de vista financeiro (e sempre com  os devidos cuidados para não se fazer dela uma empresa), sem que se  admita, contudo, possa ser este o pensamento dominante — todo servidor  público (não importa o cargo) é um dos agentes do Povo (de quem deriva  todo o poder). (8) Não é admissível esperar dessas carreiras um posto de  ganhadores de muito dinheiro, pago por um Povo em grande parte pobre.[21] (9)  Uma boa parte desses agentes públicos folga em achincalhar quem os  critica (mesmo quando seja para o bem das suas próprias instituições  jurídicas) — os críticos seriam maus brasileiros, inimigos da  magistratura ou do Ministério Público. (10) Há os que ferreteiam esses  críticos com o sinete de “comunista”, seja ele de dentro ou de fora  dessas mesmas instituições...[22]
Vaidade, próxima ao cerne de vício destrutivo da personalidade (soberba). A  vaidade, dissemos é uma das formas assumidas pela soberba. Esta é a  própria matriz dos outros vícios todos. O assunto foi largamente  desenvolvido por Santo Tomás de Aquino ao modo seguinte, segundo o autor  ora citado (sem as suas notas de rodapé e advertindo-se que em lugar de  “pecado”, idéia religiosa, haverá de ler-se “vício”, conceito mais  apropriado à Moral).[23]
A  doutrina dos vícios capitais é fruto de um empenho de organizar a  experiência antropológica cujas origens remontam a João Cassiano e  Gregório Magno, que têm em comum precisamente esse voltar-se para a  realidade concreta. Ambos tratam de fazer uma tomografia da alma humana  e, no que diz respeito aos vícios, surge a doutrina dos [...] capitais,  que encontra sua máxima profundidade e sua forma acabada no tratamento  que lhe dá Tomás. Essa doutrina - que, como tantas outras descobertas  antropológicas dos antigos, está hoje esquecida - bem poderia ajudar ao  homem contemporâneo em sua desorientação moral e antropológica. [...] a  soberba é considerada por Tomás como um pecado [vício], por assim dizer,  "mega-capital", fora da série e, portanto, prefere falar em vaidade (inanis gloria,  vanglória). [...] Comecemos por indicar o que significa vício capital.  Santo Tomás ensina que recebem este nome por derivar-se de caput: cabeça, líder, chefe (em italiano ainda hoje há a derivação: capo, capo-Máfia);  sete poderosos chefões que comandam outros vícios subordinados. [...]  Nesse sentido, os vícios capitais são sete vícios especiais, que gozam  de uma especial "liderança". O vício (e o vício capital compromete  muitos aspectos da conduta) é uma restrição à autêntica liberdade e um  condicionamento para agir mal. [...] [...] Como dizíamos, Santo  Tomás situa a soberba fora e acima da lista dos vícios capitais. [...],  Tomás lembra que, se a busca da própria excelência é um bem, a desordem,  a distorção dessa busca é a soberba que, assim, se encontra em qualquer  outro [...] 
O  juiz (é apenas um exemplo), por exercer certas funções de mando sobre o  público, e ser chamado de “Vossa Excelência”, tem de cuidar por não  perder a simplicidade de um ser humano como outro qualquer, sem o  devaneio fantasioso de sentir-se um ente à parte do seu Povo. Esta  situação é própria de perda lamentável. O próprio Poder Judiciário sofre  as conseqüências ruins de algumas bobagens cometidas a torto e a  direito por um bom número magistrados nesta matéria ridícula. Provém de  uma ministra mineira, do Supremo Tribunal Federal, nascida em Montes  Claros, 1954, uma admoestação, encontrável na revista brasileira Época [24], com uma rápida notícia sobre a opinião dessa ministra, Carmen Lúcia.  Para ela a permanência no cargo de ministro (ministra) deveria ser só  por determinado número de anos, e não até à aposentadoria compulsória  (com 70 anos). Em tom de blague, mas falando com seriedade, diz ela que é  só chegar ao Poder Judiciário e 
A pessoa passa a ser chamada de "Excelência" de todos os dias. Daqui a pouco começa a acreditar que é mesmo.
Vaidade em cargo público é um estado de corrupção. Instemos.  A corrupção é corriqueiramente entendida como o ato de alguém se  apoderar de bem público, “privatizando-o”, engolindo-o com o seu  patrimônio de corrupção. Bem além, porém, deita ela as suas raízes: é um  vício aferrado na personalidade, um hábito da pessoa enfraquecida na  capacidade de se portar com base nos valores naturais de reverência à  dignidade, de apreço irrestrito às potencialidades existenciais pelas  quais somos efetivamente superiores ao animal bruto. Somos mais altos (superiores) que o bruto. Somos mais nobres que a só animalidade pelo potencial inato de (1) raciocinarmos e (2) de doarmo-nos generosamente. Eis aí os dois elementos definidores da dignidade;  denotam o animal humano como diverso do simples animal bruto, que lhe  queda em nível inferior. Está correto, pois, dizer que o homem se  degrada quando baixa ao nível da animalidade (a dos brutos).
À nossa dignidade,  á dignidade do ser humano, sobrevêm os consectários dela. Derivam eles  dos dons naturais próprios do ser humano. Surge então o antípoda dos  vícios — são as virtudes, isto é, os hábitos bons, os comportamentos  aprovados pelas maiorias dos círculos sociais humanos mais influentes no  nosso momento histórico.
Os principais vícios a pesarem sobre nós, mostra uma longa tradição que são sete. São chamados de vícios capitais por serem a origem, a cabeça (caput, capital) de todos os outros maus hábitos humanos.  Com qualquer deles começa a decadência moral da pessoa. Exemplo: a  corrupção, o desdém pelo próximo, o apego desordenado ao dinheiro, a  sede descontrolada de prazeres, o menosprezo pelo Povo. [25]
O vício da gula. Registram-se alguns sinônimos como glutonaria ou glutonia, em que o étimo glu indica “garganta”, “esôfago”, por aí passam comida e bebida.[26]  Consiste na fraqueza da voracidade pelo que sabe a gostoso no corpo em  certo momento (doces, iguarias, sabores exóticos, álcool), devorado em  grandes quantidades, empanturrando-se a pessoa, ainda que saia  desfavorecida a saúde corporal e psíquica. 
Conta  Gilberto Freyre, sobre o tempo de Brasil colônia e império que, perante  o gosto pelos excessos dos condimentos da comida africana, havia os  ricos que até morriam por falta de controle da gula, além de padecerem  de infecções intestinais, perturbações do fígado, artritismo, derrames,  síncopes. 
Com  esta fraqueza o ser humano tem obstáculos para doar-se, e dificuldade  de eventualmente sacrificar interesses próprios: a sua interioridade  está rompida, rota, dissolvida. A tendência a corromper-se socialmente é  fácil de realizar-se, prejudicando a sociedade — “a ocasião faz o  ladrão”.  Há mais, porém. A gula pode levar o comilão a gastar o dinheiro público para lhe satisfazer o esôfago. Sabe-se que o uso  do cartão corporativo em Brasília é restrito a pequenos gastos, como  para pagamento de serviços de manutenção e material de escritório.  Consta, porém, em dados da Assembléia Legislativa da BA que o jornal  paulista Folha de São Paulo [27]
[...] analisou os extratos dos cartões de Matilde Ribeiro, Altemir e Orlando, os três funcionários do primeiro escalão do governo que mais gastaram com cartão no último ano - respectivamente R$ 171,5 mil, R$ 22,6 mil e R$ 20,1 mil. A análise se refere exclusivamente a gastos com restaurantes. Os três ministros, juntos, pagaram despesas no ano passado em 158 restaurantes, lanchonetes, bares ou choperias. Figuram como estabelecimentos preferidos churrascarias, restaurantes de comidas árabes e italianas, além de choperias. [...]
Das 26 despesas de Silva com restaurantes, há muitas com churrascarias. Como mostrou a Folha, ele gastou R$ 468,05 em um restaurante nos Jardins quando não tinha evento na agenda. [...]
Gregolin vai com freqüência a restaurantes italianos, principalmente em Santa Catarina, seu Estado natal. Em Chapecó, sua base política, estão registrados dez pagamentos. [...] Nos extratos de Gregolin constam três despesas no Carnaval de 2007, que somam R$ 222,85, em restaurantes do Rio, todas na Quarta-Feira de Cinzas. Uma delas no Porcão, tradicional reduto VIP do Rio. [...] Matilde também gastou no Carnaval: R$ 83,60 no Rio, e R$ 120,78 em Salvador. Os gastos são do mesmo dia: 21 de fevereiro, Quarta-Feira de Cinzas.
Divulgou-se também a notícia de ter sido semelhante a glutonaria de ministros do governo federal. A ministra da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro (assistente social nascida em Flórida Paulista, 29.07.1960),  além de haver gasto 118 mil reais com aluguel de veículos, usando o  cartão corporativo, despendeu com comida quantias elevadas.
No dia 21 de junho, por exemplo, há uma despesa de R$322,74 na Miski Rotisserie, restaurante de comida árabe no Jardim Paulista, em São Paulo. O lugar foi freqüentado por ela sete vezes em 2007.
Acresce o caso noticiado de mais dois ministros a realizarem gastos com comida à custa do dinheiro público [28]: Guilherme Cassel (Desenvolvimento Agrário) e Orlando Silva (Esporte). 
No dia 19 de abril, Cassel pagou R$81,30 numa lanchonete fast food no Aeroporto de Salvador, onde o lanche completo custa em média R$13. O ministro gastou R$3.132 em 2007. Os gastos de Orlando Silva (total de R$20.112) também chamam a atenção. No dia 25 de setembro, há o registro de pagamento de uma conta de R$468 no restaurante Betencas, na Bela Cintra, em São Paulo. No mesmo bairro, no dia 22 de outubro, foi pago (sic) R$198,22 na Churrascaria Boi Preto. O rodízio custa entre R$35 e R$60.
Junta-se  aí sem pejo a gula anárquica à avareza criminosa (Código Penal, artigos  312, 315, 359-D, e quiçá outros mais). Já dizia o vulgo de outrora que  os vícios soem andar juntos. É enfraquecimento da pessoa, corrupção nas  suas bases. Mantendo elas o poder, repete-se o patrimonialismo histórico  do Brasil.
Ira ou cólera.  Revela-se esta fraqueza da pessoa em hábitos como a grande impaciência,  a indignação raivosa, o rancor, a aversão profunda contra alguém,  geralmente com repentes incontrolados de surto incontido. É o mesmo que  irritação furiosa ou agitação violenta. A ira provoca palavras  desabridas e intempestivas. Chega a gritarias com ofensas e mágoas ao  próximo. O indivíduo habitualmente acometido dessa classe de indignação  injusta está debilitado no seu interior; falta-lhe o poder de reflexão,  próprio do ser humano. O descontrole causa no irado o sentimento de  desprezo, mesmo que se lhe tenha medo.  O mau  humor, se não for bem tratado, pode provocar explosões freqüentes de  ira. Tal ocorria no regime patriarcal que durante séculos vigeu na  história brasileira. Vejam-se uns poucos exemplos. A mulher era muita  vez tomada de rivalidade e ciúme da escrava bonita (p. 445). O “caminho  mais curto” na educação, com castigos e inflicção de medo às crianças  (p. 446). Havia as que se vingavam dos maridos por terem mantido relação  sexual com a mulata bonita — mandavam matá-la, espedaçá-la e colocar os  olhos dela a boiar sobre o sangue da própria, em compota especial  colocada sobre a mesa de refeição, diante dele. Ou o rancor sexual com  atos ira tão graves contra a escrava como o cortar-lhe os seios,  arrancar-lhe as unhas, queima do rosto e das orelhas, arrancamento dos  dentes a golpes de salto de botina (p. 420-421).
Estas são fraquezas de caráter comprometedoras da personalidade toda da mulher irada. Corrompem as vidas das pessoas fáceis, dóceis às suas paixões egocêntricas. 
Inveja.  Esta fraqueza habitual é outro “vício capital”. Há outros termos que se  lhe assemelham — cobiça, ciúme, avidez de algum bem alheio. O viciado  pela inveja deseja para si, tocado pelo egocentrismo, algo que outrem  adquiriu, ou alcançou, sobre que teve vitória pessoal ou grupal. Não o  tendo conseguido, então o invejoso diminui o mérito do vencedor,  esconde, mente, magoa-se por estar em estado de inferioridade. Padece da  fraqueza pela qual sente pesar, desgosto, mágoa por algum feito  alcançado por outrem. Pode dar-se por status, dinheiro,  atributos pessoais, reconhecimento público. Essa fraqueza habitual  estremece o psiquismo, acende o complexo de inferioridade, causa  tristeza latente, nutre inconformismo com a própria sorte. Quadro desta  natureza, se viger em servidores públicos, empesteia o serviço que pelo  direito tem ser prestado ao Povo em boa qualidade. [29]
Nos  tempos do patriarcalismo colonial e imperial, muitos casos havia de  ostentação e de disputa por admiração das outras pessoas, notadamente,  claro está, das “pessoas gradas”, por outras palavras, das “elites”.  Estas são a casta dos nascidos de “estirpe aristocrática”, de “sangue  nobre”, de “gente bem” — gente formada de alguns ora um tanto ricos, ora  muito endinheirados — “sempre diferenciados”, isto é, merecedores de  regalias e privilégios etc. Uns poucos exemplos brasileiros patriarcais  podem aduzir-se. Pululavam os casos dos que mal tinham o que comer, mas  passavam por ricos com ostentação de vestes e de criadagem escrava (de  até quatro pessoas a seu redor para servir); brilho no vestuário;  casarões enormes com mobília barata; muita dívida acumulada e,  moralmente mais gravoso, tudo à custa dos escravos da Guiné e de mouros  cativos etc. (p. 318-319). 
Estes  estados de espírito invejoso e falsamente competitivo podem suscitar  necessidade, dificilmente controlável no mundo emocional, de  compensações endopsíquicas negativas (artificiais). Uma delas pode ser a  consecução por vias transversas de vantagens, retiradas do alheio  (também do Estado) — ato ilícito em vários tipos penais, todos de  corrupção.
Preguiça.  Também é chamada de letargia, inércia, desinteresse, apatia, torpor,  desalento para esforços. A vontade de trabalhar descamba para o grau  zero, sobretudo se for necessário denodo no prol de outrem. Com isso o  egotismo faz surgirem adiamentos no cumprimento de deveres, esquecimento  deles, tédio pela vida, imobilização geral diante de situações árduas.  Aduz Rosemeire Zago, psicóloga [30]  que a preguiça pode também ser indicativo de falta de confiança em si  mesmo. Como os demais vícios, chamados de capitais pela tradição, leva  consigo o traço comum — de uma 
[...] busca da satisfação no mundo externo, onde se procura compensar a falta de amor-próprio e a necessidade profunda e inconsciente de fugir dos próprios sentimentos.
Acrescenta a autora que também a preguiça gera conflito nas relações humanas. Para vencê-la há “[...] a necessidade de um esforço consciente e racional de mudança”.
A  mulher ou o homem com algum acesso a bens de outrem (como os do Estado)  pode buscar compensação no ganho fácil (“satisfação no mundo externo”),  mediante o pago por omissões no serviço (corrupção). Logo se vê o papel  que a reeducação pública deve desempenhar para se alterarem os rumos da  ética com o critério da dignidade da pessoa, a substituir a procura por  as exterioridades, de que se nutrem os maus hábitos.
Na publicação do “Correio Braziliense” de 29.11.2009 consta a seguinte chamada: [31]
Envolvidos no escândalo dos sanguessugas até agora não foram punidos Com a demora nos processos, eles têm chance de se candidatar em 2010.
É  “quase um quinto dos deputados e centenas de prefeitos em todo o  Brasil”, a que se somam “livres e impunes funcionários públicos e  empresários”. Trata-se de grupo havido como criminoso “segundo  investigações da Polícia Federal e do Ministério Público”. Este ilícito  teria sido cometido “em 20 estados”, num movimento de “cerca de R$ 100  milhões desde 1998”.
Essa delonga no andamento do processo, de que se queixa o Ministério Público, tem um forte contingente de moleza, aversão ao trabalho, negligência, indolência, mandriice  (termos encontradiços no Aurélio). O serviço público pede celeridade,  mormente em crimes dessa natureza, a que está especialmente atento o  brasileiro aberto ao interesse social. O mandrião e ocioso foi bem  definido com fatos patrimonialismo clássico. Havia o senhor de engenho a  dispor duas mulatas de cada lado para lhe acertarem o charuto na boca. E  o que até mantinha relações sexuais na rede levada pelos negros. Como  assinalado acima, a moleza do patriarca de outrora era tanta que parte  dos senhores nem quase nem sequer já conseguia andar; eram constante e  docemente levados nas redes macias de aristocrata da casa-grande.
Essa  preguiçosa moleza não se coaduna com a diligência e operosidade exigida  pelo serviço público. Constitui-se em mais uma raiz de corrupção. A languidez corrói  as forças interiores da pessoa. Uma das conseqüências será a procura do  caminho mais fácil, do dinheiro obtido sem honestidade, de modo tal que  se possa “vencer na vida sem fazer força”. 
Herança de vícios. A  longa lista de maus hábitos na vida brasileira transformou-se em  herança de má categoria na nossa história. As elites, os aristocratas ou  nobres, tinham-se por superiores aos seres humanos das classes mais  baixas (soberba). Eis o confessado por um deles, membro nato da “nobreza  da terra”, apegada a prerrogativas de toda ordem, em 1817, a um  tribunal da Baía, aludindo ao sistema político de então:[32]
[...] sistema que, derrubando-me da ordem da nobreza a que pertencia, me punha a par da canalha e ralé de todas as cores e me [...]
5 — Novo surto educacional.  Mostra  a velha pedagogia que um mau hábito (vício) pode ser substituído por um  hábito bom (virtude). Nem parece estar fora de moda esta proposição. De  modo que o povo brasileiro pode reeducar-se. Tarefa fácil não é. Sendo,  porém, coisa possível, compensa o esforço longo, transmitido de governo  a governo, de geração a geração. Não há negar que esse intento pode ser  poderosamente ajudado pela estrutura jurídica. Um dos  pontos dela é que a aplicação do sistema jurídico já alcançado, bom em  grande parte, seja cientificamente entendida e efetivamente aplicada. 
Existem igualmente as bases do bom jeito de ser do brasileiro, que parece cultural também. Alega a historiadora Beatriz Muniz Freire que “podemos repensar a história de nossa formação”:
[...] O povo brasileiro, além de multiétnico, é pluricultural, desde os primeiros tempos. Não havia, como não há atualmente, uma única cultura branca, outra negra e outra indígena. Brancos, negros e índios diferiam uns dos outros, e cada um desses grupos tinha suas diferenças internas. [...] A história que nos contam sobre nossa formação, apelidada pelo antropólogo Roberto Da Matta de ‘fábula das três raças’, procura apagar essas e outras diferenças, reduzindo-as a um punhado de “contribuições de cada raça”, das quais se teriam originado as “qualidades do povo brasileiro”. Uma fábula cor-de-rosa que foi incluída nos currículos escolares nos anos 60 e 70, período em que sucessivos governos se esforçaram por difundir a imagem de um Brasil integrado, coeso, cujo povo se constituiria numa unidade harmoniosa. Na realidade, contudo, multiplicavam-se os conflitos resultantes da ocupação do interior do país, das diferenças políticas, ideológicas, culturais e sociais que sempre caracterizaram o povo brasileiro. [...]
Podemos repensar a história de nossa formação, reconhecer as diferenças culturais e sociais e relacioná-las às situações que vivemos e observamos hoje em nosso país.
Em quem confiar. Há um estudo de Ricardo Voltolini[33]  sobre o Índice de Confiança Social que, diz ele, [...] reforça algumas  impressões já consagradas pelo senso comum e inspira, por tabela, outras  muitas reflexões interessantes [...]. [34]
A  família é para o brasileiro a instituição mais confiável (90 pontos).  [...] Em seguida vêm os bombeiros (88), as igrejas (76) e as Forças  Armadas (71), por serem provedoras de segurança física e as religiosas  pelo conforto espiritual trazido. Curioso, acrescenta, é o fato de a  mídia figurar entre as cinco instituições dignas de maior confiança  popular, com 71 pontos. 
O estudo do Ibope Inteligência não deixa dúvida: os brasileiros confiam mais nos jornais, TVs, revistas e rádios do que nos seus amigos (67), vizinhos (59) e nos brasileiros em geral (59). Muito mais do que nos partidos políticos (31), no Congresso Nacional (35), nos sindicatos (46) e no sistema público de saúde (49).
Nota-se  também que os jovens (18-24 anos) são os que menos confiam na Polícia  (49), nos vizinhos (51) e nas escolas públicas (62). Ou seja, 
[...] os que têm acima de 70 anos estão entre os que menos confiam na Justiça. Quando os jovens, donos do futuro, descrêem na instituição que pode ajudá-los em seu próprio desenvolvimento, e os idosos, detentores do passado, acreditam pouco na instituição que deveria assegurar o exercício dos direitos, talvez seja a hora de pensar no tipo de projeto de país que desejamos construir. E nos valores que vão lhe servir de base de sustentação. [...]
Diz o autor, com base na estatística, ser indispensável mudança radical de 
[...] ações, comportamentos e, principalmente, valores na direção de cumprir bem o papel esperado pela sociedade. A nossa crise é essencialmente de valores. [...]
6 — Novos valores a encontrar, ou reencontrar. Como  dito, é vem-nos da alargada tradição ascética do ocidente que o costume  mau é substituível pelo bom hábito. Cabe, pois, indagar quais são os  contrários dos vícios capitais. A mesma tradição responde com as forças interiores das pessoas, notadamente aquelas em volta das quais giram as outras qualidades construtivas dos seres humanos. Há quatro virtudes cardeais  que inspiram o surgimento das outras virtudes, isto é, quatro forças  humanas fundantes da prática geral da dignidade do homem. “Cardeal”  vem-nos de cardo-cardinis, gonzo ou dobradiça em Latim.  Portanto uma virtude cardeal é algo assim como um pólo sobre que giram  outras forças morais, atraídas por ela. [35]
Virtude,  segundo Aristóteles, é uma disposição adquirida de fazer o bem, sendo  certo que essas forças se aperfeiçoam com o hábito (hábito=repetição de  atos condizentes com a matéria delas). [36]
Segundo vetusta doutrina católica, as virtudes 
"são perfeições habituais e estáveis da inteligência e da vontade humanas, que regulam os nossos actos, ordenam as nossas paixões e guiam a nossa conduta segundo a razão e a fé”.
Diz a mesma secular tradição serem quatro as virtudes cardeais. Temperança, prudência, fortaleza e justiça. [37]
a) A prudência, do latim prudentia,  a saber, previsão, sagacidade. Freqüentemente é associada aos conceitos  de sabedoria, para a qual se requer alguma introspecção, e ainda com o  próprio conhecimento. Está nela a capacidade de julgar entre ações  piores e melhores, tanto em geral como relativamente a certo pedaço  individualizado de espaço-tempo-energia. Muito se ocupa do conhecimento,  de modo que é indispensável à atividade científica. Quer isto dizer que  a ética toda há de vir regulada por ela. Indica regra e medida, cautela  humilde e exatidão máxima na tomada de decisões, e no agir prático.
b) A fortaleza  assegura a firmeza da pessoa nas dificuldades e em toda a situação  árdua onde se necessita de vitória sobre si mesmo. É, pois, a constância  na procura do bem, o hábito de atribuir efetivamente a cada qual  (pessoa ou círculo social) o que hic et nunc a natureza exige. Isto em diferentes três níveis de convivência: (a) democracia (participação no poder), (b) liberdade (ausência de obstáculos de ordem física e psíquica), (c) crescimento em igualdade (todos terem meios de subsistência, trabalho, educação, assistência e ideal ou sonho). [38]
Tal  força interior nada tem de fácil. Resulta geralmente do esforço contra o  egocentrismo. Cuida-se de uma luta proveniente da secular Psychomachia,[39] como a descreveu o escritor latino, cristão, Prudêncio (348- c. 410), onde se apresentam as lutas alegóricas entre as virtudes e os vícios.
c) A temperança (ou moderação), σωφροσύνη, sophrosyne, temperantia  — é uma dessas virtudes universais. Significa a força de a pessoa se  equilibrar, alude à competência moral de a pessoa manter o comando sobre  as reações instintivas. Coloca limites, modera a forte atração dos  prazeres, assegura o domínio da vontade sobre as ações e reações  mecânicas do corpo, e proporciona o equilíbrio no uso dos bens. Serve  para controlar a gula e a luxúria. Dizem alguns ser ela a prudência em relação aos prazeres do corpo.
d) A justiça  é a virtude pela qual, segundo Aristóteles e Tomás de Aquino, subsiste  uma vontade constante e firme — a de dar aos outros o que lhes é devido.  Vai além do direito subjetivo (atribuição de um bem de vida segundo as  regras jurídicas vigentes). Abrange a ética, posta acima de eventual  norma jurídica contrária à dignidade do ser humano. Indica (dicere, dizer, δικη) a medida do equilíbrio entre vantagens e desvantagens das coisas entre seres humanos.[40]
As sanções morais.  Virtude-vício, moralidade-imoralidade, força bela e chilique bobo, tudo  isto aparece como figuras contrapostas. Recebem elas, nos círculos  sociais, diferentes sinais — de reprovação ou de aprovação. São as sanções: a) penais (reprovação, isolamento, desconfiança, desconsideração, desestima); b) premiais (aceitação,  confiabilidade, estima, respeito, amizade). Quando já deixam de existir  as sanções, a crise moral é grave. Quando nem sequer o direito é  aplicado como freio, então já a sociedade, o Povo, terá descido ao fundo  do poço. 
7 — Algumas outras lições da história pátria.  Essas quedas que causam vertigem, vimo-las resumidamente acima com algo  da história do Brasil na dicotomia “Casa Grande & Senzala”.  Acrescem as valiosas análises de dois sociólogos brasileiros de proa:  Sérgio Buarque de Holanda[41] e Raymundo Faoro.[42] Colheremos uma pouca dessas pedras preciosas brasileiras.
Entraves à cultura.  O primeiro, Sérgio Buarque de Holanda, diz que os portugueses criaram  entraves à cultura intelectual; temiam a circulação de idéias novas  porque poderiam pôr em risco a estabilidade do domínio lusitano (p.121).
Mineração e lavoura. A  atividade na mineração e na lavoura era perdulária. O português se  aproveitava do braço escravo e da terra farta. Era pouco afeito aos  trabalhos custosos porque o seu espírito era mais aventureiro que de  realização econômica pelo trabalho organizado (Sérgio Buarque de  Holanda, p. 49).
Individualismo lasso. A  formação do caráter brasileiro deu-se em clima de individualismo,  avesso ao trabalho monótono e moroso. A disciplina exigente era pouco  estimada. Firma-se um impressionismo com palavras elegantes e bonitos  argumentos. A contradição não lhe parece estranha mesmo entre pessoas de  talento. Existia a tendência a alcançar altos postos e rendosos cargos  sem seguir caminho normal para isso; se possível ocupar meia dúzia de  cargos ao mesmo tempo. Muito diploma acadêmico não servir à vida prática  e as profissões liberais são as mais respeitadas, notadamente a dos  bacharéis em direito. Muitos eram os estudantes formados em Coimbra,  aonde foram com o fim de obter emprego, mas formados sem nunca terem  estado em Coimbra. Imperava o individualismo, estimava-se o título de  doutor. Preferiam-se as leis genéricas: servem para circunscrever uma  realidade complexa dentro do âmbito das veleidades pessoais. A frase  lapidar gozava de prestígio por se tornar inflexível. Tem-se a impressão  de a conquista do conhecimento poder ser alcançada sem trabalho mental  “aturado e fatigante”. O positivismo de Comte encontrou aí solo fértil  com as suas certezas fáceis. O compadrio era o que de regra inspirava  decisões. Os movimentos sociais eram muito mais impulsionados pelo  sentimento que pela análise racional prévia (Sérgio Buarque de Holanda,  p.155-161).
O brasileiro, homem cordial. A  expressão “o homem cordial”, atribuída ao brasileiro significa leveza  no trato, hospitalidade e generosidade. Terá sido resultado de uma  influência ancestral. Essa cordialidade não é o mesmo que “civilidade”  ou “boas maneiras”. Jorra ela de um “fundo emotivo extremamente rico e  transbordante”. Não gosta, por exemplo, do ritualismo próprio do povo  japonês. Não é o que poderia se chamar de polidez; esta sempre leva algo  de disfarce no seu bojo. Ao contrário da cordialidade brasileira, a  mera polidez revela “um decisivo triunfo do espírito sobre a vida”. O  homem cordial é expansivo e de pouco interesse pela vida em sociedade. O  que mais importa é “um viver nos outros”. Admitem-se as fórmulas de  reverência, contanto que não suprimam um convívio de tom familiar, de  intimidade mais sincera. Já o português é mais ligado aos títulos e aos  sinais de reverência (p.146-148). 
Envelhecimento da lavoura, um dos pontos iniciais da burocracia.  O  aumento dos centros urbanos coincidiu em grande parte com o declínio da  velha lavoura. Os senhores rurais começaram a perder posições de  privilégio. Entre as outras ocupações sobrevém agora a organização das  coisas da cidade, necessária. Esta é uma das causas de impulso inicial à  burocracia. 
Evolução econômica. A  evolução econômica do Brasil, em grandes linhas se deu desde o velho  engenho, dilapidado pela usina moderna, a queda do sistema agrário  substituída pelos estabelecimentos industriais urbanos. A complexidade  da situação brasileira está em que o pensamento monárquico não nos  largou de todo; tenta armar artifícios para se manter. Com isso o  conjunto de postos estatais apresenta certa tendência despótica,  contrária à “doçura de nosso gênio”. O Estado está sempre necessitado,  isto sim, de compostura e solicitude. Sem isso não cobra  respeitabilidade que a gente ibérica sempre houve como a “virtude  suprema entre todas” (Sérgio Buarque de Holanda, p.176). 
Um poder indevido e inversão de poderes. Durante  muito tempo a Igreja Católica foi nada mais nada menos que braço do  poder secular, um instrumento do reino. O poder civil propunha  candidatos ao bispado e nomeava os bispos, cuja ratificação, sim, era  pontifícia. O Estado cobrava dízimos em benefício do culto católico, de  modo que a Igreja muitas vezes era uma fiel cúmplice do poder estatal. [43] 
O  livro de Raymundo Faoro (1925-2003) foi editado pela primeira vez em  1958. A edição de 2001 consta de 898 páginas de texto e notas de rodapé.  O autor foi advogado, cientista político e historiador, membro da A. B.  L. a partir de setembro de 2002 e presidente da Ordem dos Advogados do  Brasil de 1977 a 1979.
Ficaremos aqui com apenas algumas gotas do seu extenso cabedal. Antes um apanhado da sua obra sobre a formação histórico-social brasileira.
[...] aponta o período colonial brasileiro como a origem da corrupção e burocracia no país, colonizado por Portugal, então um Estado absolutista. De acordo com o autor, toda a estrutura patrimonialista foi trazida para cá. No entanto, enquanto isso foi superado em outros países, acabou sendo mantido no Brasil, tornando-se a estrutura de nossa economia política.
Nesta sua concepção de Estado patrimonialista, Faoro coloca a propriedade individual como sendo concedida pelo Estado, caracterizando uma "sobrepropriedade" da coroa sobre seus súditos e também este Estado sendo regido por um soberano e seus funcionários. O autor assim nega a existência de um regime propriamente feudal nas origens do Estado brasileiro. O que caracteriza o regime feudal é a existência da vassalagem intermediando soberano e súditos e não de funcionários do estado, como pretende Faoro.
Desenvolvendo seu raciocínio, Faoro conclui que o que se teve no Brasil foi um capitalismo politicamente orientado, conceito este de inspiração weberiana. Negando-se em atribuir um papel hipostasiado à economia com relação à política, Faoro vê em seu país uma forma pré-capitalista. Esta característica pré-capitalista, no entanto, ainda será entendida no interior do pensamento weberiano em que capitalismo é definido como uma aquisição racional de lucros burocraticamente organizada, diferente do capitalismo politicamente orientado em que tal aquisição será direcionada por interesses dos Estado e da sua concorrência com outros estados. Destacando-se da análise da dialética marxista, esta forma de capitalismo não irá inevitavelmente desembocar numa forma de capitalismo mais avançado, mas poderá perpetrar-se na medida em que coexiste com formas racionais de organização da produção.
O capitalismo politicamente orientado atribui ao Estado patrimonial e seus funcionários características de um estamento burocrático, ainda que este impeça a consolidação de uma ordem burguesa propriamente dita no país. [44]
Estamento.  É um círculo social informal, inconscientemente aberto a gente de  qualquer classe social, cuja finalidade é acercar-se dos centros de  poder — para exercê-lo, ou para influenciar nele o máximo possível. O  termo alemão é “Ständenordnung”: ordenação (homogênea) dos status sociais (estratificados) e parece ter sido usado por Max Weber em sentido mais amplo que o ora delineado. 
[...] não propriamente um corpo homogêneo estratificado, mas sim uma certa teia de relacionamentos que constitui um determinado poder e influi em determinado campo de atividade. [...]
Exemplos de grupos estamentais.  São-no a burocracia palaciana dos governos, interessada em influir no  poder político; os membros do Poder Judiciário e do Ministério Público  enquanto interessarem as campanhas conjuntas para conquista de mais  vantagens e privilégios, se não forem concorrentes; os círculos sociais  de parceiros interessados na não-mobilidade social do país (como para a  integração maior de negros e de índios, ou de gente situada em extrema  pobreza); o grupo fechado de empresários implicitamente mancomunados na  ajuda de candidato eleito; grupo de pessoas contrárias a mudanças  legislativas, ou administrativas, capazes de mexer com a comodidade dos  corruptos; ocupantes de cargos públicos atentos à iniciativa de norma  susceptível de alterar privilégios garantidos pelo sistema jurídico,  para lhe abortarem a edicção; parcerias e coalizões concentradoras de  interesses comuns, com estratégias de recíprocas vantagens; união de  ideais (ou interesses) religiosos, políticos, econômicos, em somatória  convergente de esforços.
Prejuízos morais e jurídicos de muitos estamentos do Brasil. Raymundo  Faoro aponta vários deles. Alude ao fato de o estamento ser uma  modalidade de associação de pessoas acostumadas com os jogos do poder  político. Servem-se dessa experiência para impor a sua vontade sobre as  pessoas estranhas a essa comunidade. Ela não se constitui de gente da  mesma classe social. Alguns podem ser mais ricos e outros mais pobres. A  qualidade exigida é a inclinação de todos para exercer o poder real  sobre as autoridades do Estado. O estamento favorece ao máximo o  prestígio dos seus componentes. Quem tem prestígio, exerce poder de  comando. Esse círculo é socialmente elevado, com qualificação para  influir no máximo possível de círculos sociais (Faoro, p. 60-63). Ao  estamento interessa sobre modo a burocracia, instrumento de controle. Há  o estamento dos militares, dos togados, dos capitães da indústria, dos  dirigentes de sindicatos de trabalhadores. A sua união dependeu da busca  de interesses comuns, numa trajetória definida, resistente às mudanças  sociais. Isso começou há mais de seis séculos, portanto, em Portugal (p.  819-838).
Egotismo.  Ressumbra  uma vez mais o cerne mesmo da corrupção – o egotismo, de que emanam  todos os vícios destrutivos da vida social. O termo egotismo,  de origem na Inglaterra no século XIX, indica sobretudo a importância  grande dada a si mesmo por alguém. Inicialmente era mais ao escrever ou  ao falar. Depois, estendeu-se o uso do conceito. Abrangeu também a  centralização de si no mundo, em torno do qual os valores hão de girar;  eis, então, a perda de percepção da realidade. Indica, portanto, um  egoísmo fortalecido, rijo, impenitente, inflexível e intolerante, duro  com os adversários, aos quais o sujeito sempre se prefere em tudo. Para  tanto o sentimento de superioridade há que aflorar.[45]  É a soberba. O soberbo tudo pode. Seguem-se os seus acólitos clássicos:  avareza, luxúria, gula, ira, inveja, preguiça. E muitas são as próprias  formas que vai assumindo cada qual conforme o egotismo vai derrotando a  pessoa vitimada de vícios.
Alguns resultados. Contentamo-nos  aqui com anotar serem esses estamentos os círculos sociais observadores  do poder político, sempre interessados em colher dele frutos  econômicos. Sabido é serem a política e a economia, mundo afora, os  processos mais violentos na troca vivencial de valores. São, a um tempo,  os processos sociais de adaptação mais e instáveis. As pessoas situadas  fora dos estamentos (como o Povo mais simples e menos protegidos pelo  Direito) ficam injustamente à míngua. Donde o desgosto, a raiva, alguma  vontade de vingança. Aparecem assim mais fraquezas humanas e ombrearem  com os vícios dos poderosos, desorganizando crescentemente os círculos  sociais.
 Escreve Darcy Ribeiro:
Descendentes de escravos e de senhores de escravos seremos sempre servos da malignidade destilada e instilada em nós, tanto pelo sentimento da dor intencionalmente produzida para doer mais, quanto pelo exercício da brutalidade sobre homens, sobre mulheres, sobre crianças convertidas em pasto de nossa fúria. A mais terrível de nossas heranças é esta de levar sempre conosco a cicatriz de torturados impressa na alma e pronta a explodir na brutalidade racista e classista. Ela é que incandesce, ainda, hoje, em tanta autoridade brasileira predisposta a torturar, seviciar e machucar os pobres que lhes caem às mãos. [46]
Esforços de refazimento.  Terá de haver um longo, efetivo e vigoroso programa de educação e de  re-educação, com reflexão nacional sobre os efeitos destrutivos da  corrupção, com proliferação de idéias sobre ética geral e mais a ética  na política, com a efetividade das medidas legais punitivas (notadamente  contra os corruptos mais poderosos), e com o término dos foros  privilegiados (ou a sua redução ao mínimo cientificamente necessário). [47]
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http://pt.wikipedia.org/wiki/Psychomachia (Batalha da Alma)
[1] FREIRE, Gilberto. Casa-Grande & Senzala  (Formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal).  51ª edição. São Paulo: Editora Global, 2006 [3ª. reimpressão, 2009]
[2] Ver Sociedade Patriarcal - 2ª parte; publicado na Folha da Manhã, terça-feira, 13 de novembro de 1951. (Está em http://almanaque.folha.uol.com.br/sergiobuarque_patriarcal2.htm). Ver também HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. Companhia das Letras: São Paulo, 26ª edição, 1995 [31ª impressão em 2009], páginas 81 seguinte e 87 seguintes.
[3] Veja-se a colaboração alemã >>>  http://de.wikipedia.org/wiki/Mani_(Religionsstifter) onde está posta com algum pormenor em citações bibliográficas tais, como — Die Gnosis III. Der Manichäismus. Unter Mitw. von J.P. Asmussen eingel., übers. und erl. von Alexander Böhlig. Zürich 1995 (und andere Aufl.); Geo Widengren: Mani und der Manichäismus. Stuttgart 1961; Manfred Hutter: Mani und die Sasaniden. Der iranisch-gnostische Synkretismus einer Weltreligion. Institut für Sprachwiss. d. Univ. Innsbruck 1988; Ludwig Koenen u. Cornelia Römer (Hrsg.): Mani. Auf der Spur einer verschollenen Religion. Herder, Freiburg i. B. u. a. 1993. 
[4] Ver em >>
No  ano de 1995, entre Zero e 10 o Brasil tinha 2,7% de nota, igual ao  nível da Venezuela e abaixo de México, Argentina, Colômbia e Chile. No  ano 2000 foi atribuída ao Brasil a nota 3,9, abaixo da Costa Rica, El  Salvador, Chile e Peru. Mais recentemente, em 17.11.2009, noticiou-se  por aqui pela Revista “Veja”, que ocorrera ligeira melhora: “A  organização Transparência Internacional (TI) divulgou nesta terça-feira,  em Berlim, na Alemanha, o ranking anual de corrupção. O Brasil, que  recebeu 3,7 pontos, em uma escala de 0 a 10, subiu cinco posições e  passou de 80º para o 75º lugar. Apesar da melhora no ranking, o país  continua com uma imagem negativa, compartilhando a posição com nações  como Colômbia, Peru e Suriname”. 
[5]  Sobre isto ver, entre trabalhos de ordem técnica, agora em cosmovisão  mística (não científica), o CAPÍTULO IX (páginas 97-104), de BATA, Angela Maria La Sala, À procura da verdade. Editora Pensamento: São Paulo (sem data). É tradução de Alla ricerca della veritá, Roma, 1972). Está em >>>:
[6] MARQUES, A. H. de Oliveira. Breve História de Portugal. Editorial Presença: Lisboa, 7ª ed., 2009, p.409.
[7] Leia-se ligeiro estudo, simples, em >>
[8] Ver Friedrich Dorsch (Hrsg.): Psychologisches Wörterbuch, Verlag Hans Huber, 11. Aufl., 1987, in  http://de.wikipedia.org/wiki/Egozentrik
[9]  Tal como andam os ilícitos cometidos contra jovens, e praticados por  eles, os nossos dias parecem ter recebido herança cultural daqueles  tempos do patriarcalismo brasileiro clássico. 
[10] Ver >>>
[11] No mesmo jornal paulistano, e mesmo Caderno Cotidiano consta: “Só vieram as mães com o atestado de óbito", disse recentemente o juiz Marcos Bandeira, de Itabuna (BA), sobre o último mutirão para julgar adolescentes suspeitos de cometer infrações”. 
De  acordo com noticiário noturno da TV do dia 14.11.09, atualmente os  municípios com mais mortes em todo o Brasil são Maceió e Itabuna.
[12] Jornal Folha de São Paulo, Caderno Brasil, quarta-feira, 25 de novembro de 2009.
[13] Gilberto Freire menciona a situação dos Leme, de origem nórdica, com altos cargos dados pelo rei de Portugal no século XVII. No Brasil alguns descendentes são Leme encontrados nos trabalhos mais baixos da escala social (Casa Grande & Senzala, p. 338-339).
[14] Ver Folha de São Paulo. Caderno Brasil. São Paulo, quarta-feira, 02 de dezembro de 2009.
[15] Há um que outro escrito sobre a matéria; ver, por exemplo, >>
[16] Na moral o critério máximo do comportamento é o da dignidade,  esta capacidade humana de trabalhar com fatos e idéias, com mais a  capacidade de nos doarmos ao próximo tanto individual como grupalmente.  Muito há o que consultar nesta matéria. A título de exemplos, leiam-se  ARISTÓTELES. In Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1996. Ética a Nicômaco, p. 111-320 (o bem humano e o prazer); PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. A Moral do futuro. Rio de Janeiro: Editores F. Briguiet e Cia, 1913, páginas 21-78 (sobre a evolução da moral); BARBOSA, Rui. A crise moral. Rio  de Janeiro: Ed. Organizações Simões, 1962, páginas 120-123 (sobre os  “homens de bem”, aduladores do Mal. Hermes da Fonseca); BENETI, Sidnei Agostinho. Da conduta do juiz. 2ª ed. rev. São Paulo: Saraiva, 2000, páginas 149-183; MORAL, Irenaeus Gonzalez. Philosophia moralis. 4ª ed. Santander (Espanha): Ed. Sal Terrae, 1955, páginas 201- 215 (sobre forças ou virtudes e fraquezas ou vícios); BLACKBURN, Simon. Oxford dictionary of philosophy. Nova York: Oxford University Press, 1996, p. 250-252 (o que é o bem); BRUGGER, Walter. Philosophisches Wörterbuch. Wien: Im Verlag Herder, 1948, p. 90-92 (o conceito de ética como filosofia moral); GUARDINI, Romano. Der Herr (Betrachtungen über die Person und das Leben Jesus Christi). Zweite durchgesehene Auflage. Würzburg: Werkbund-Verlag, 1938, páginas 99, 106 e seguintes, 490 e seguintes (a ética segundo Jesus Cristo); HABERMAS, Jürgen. Wahrheit und Rechtfertigung.  Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1999, p. 271-278 (saber teórico e saber  prático, conhecimento e moral; a dignidade); SCHMID, Wilhelm. Schönes Leben? – Einführung in die Lebenbenkunst, Ed. Suhrkamp, 1ª. ed., 2005, p. 104-111 (sobre a arte da ironia).
[17] A respeito de graus de corrupção entre países, tem-se a vigilância da “Transparency International”. Um exemplo está em Global Corruption Report 2009. Corruption And The Private Sector of Transparency International. Cambridge University Press. Edição/reimpressão; 2009, 496 pág.
[18] Folha de São Paulo, sábado, 21 de novembro de 2009. 
[19] Sobre estes conceitos freudianos (Id, Ego, Superego) ver Dra. Ruth M. Cerqueira Leite (do Departamento de Psiquiatria da Unicamp), Glossário com termos psicanalíticos. Jornal "Folha de São Paulo", Folhetim, 23 de setembro de 1979.
[20] Ver estudo realizado pelo Ministério da Justiça de Portugal, 2005, >>>> http://www.google.com/search?q=%22Na+sequ%C3%AAncia+de+uma+solicita%C3%A7%C3%A3o+do+Gabinete+de+S.+exa+o+Secret%C3%A1rio+de+Estado+da+%22&hl=pt-BR&sourceid=gd&rlz=1Q1GGLD_pt-BRBR357BR357&aq=t 
e  >>>
[21]  Uma notícia de 1º.12.2009 é de suspeita no Distrito Federal  (desembargadores sob início de investigação sobre serem possíveis  corruptos). Ver:
[22] Generalidades sobre boa conduta destes agentes públicos: VITRAL, Waldir. Deontologia do magistrado, do promotor de justiça e do advogado. 2ª ed. rev. aum. Rio de Janeiro: Forense, 2001. 
[23] Ver Jean LAUAND (Professor Titular FEUSP, IJI – Univ. do Porto). S. TOMÁS DE AQUINO E OS PECADOS CAPITAIS — Pecados capitais: uma elaboração teológica da experiência antropológica. Cfr. em  http://www.hottopos.com/notand10/jean.htm
[25]  Povo, atente-se bem, não é senão a reunião de todos os elementos do  agrupamento social de um país, sem conotação marxista, pois; as  associações servem, sim, para garantir melhorias de vantagens para os  magistrados, mas, em primeira plana é para incutir neles a consciência  de bons servidores do seu Povo — tanta é a honra que isto significa; não  pode o juiz renunciar à sua função social de cidadão cercado de  direitos e de deveres; importa mais ao País a organicidade do todo que o interesse individualista da parte: valor de mais peso é a alteridade generosa que o egocentrismo auto- e alterofágico; o equilíbrio do todo  só se percebe com esforço de pesquisa por isso que as necessidades  humanas tumultuam-se na complexidade geral, de tal modo que as carências  são variadas (de Religião, Moral, Artes, Direito, Política, Economia e  Ciência); todo e qualquer apriorismo (posição tomada por falta de  estudo, ou de denodo ético) é um desvio cognitivo; é cientificamente  impossível o equilíbrio do todo sem se equilibrarem as partes,  notadamente nos processos sociais de adaptação mais dotados de  instabilidade e de violência — política e economia; em sendo as coisas  assim, como parecem ser, é um mau cidadão (dificilmente um bom juiz) o  que se fecha na mira dos interesses pessoais e de classe (individualismo  e corporativismo) sem dar ênfase à necessidade de eqüidade crescente em  matéria de economia e de política; juiz passado a um reles renunciante  do pensamento político (nada tem isto a ver com política partidária)  vive para si, ora como um inútil ora como um perigo para o Povo: será  também, por coerência, um adversário das liberdades fundamentais e da  democracia (são duas realidades diferentes, mas que hão de andar juntas  para lograr-se equilíbrio geral — paz social em plena vivência humana).
Ora  bem, quem desamar os princípios em breve resumo acabados de enunciar, e  as atitudes consentâneas com eles, têm de reputar-se ideologicamente  (sociologicamente) como pessoa da má direita — a egocêntrica, individualista, reacionária.  Esta classe de indivíduo não se restringe ideologicamente a uma fé  convicta na efetividade prática da atividade econômica privada e na  diminuição da presença social do Estado, para bem de todas as pessoas.  Estas duas últimas são características da “direita” em sentido  eticamente aprovado — não são, só por isso, gente egocêntrica, individualista, conservadoramente reacionária. 
[26] Do mesmo étimo glu vieram à literatura os termos Gargantua e pantagruélico  — o gigantesco Pantagruel, “divertido e desbocado comilão criado por  François Rabelais, escritor francês do séc. XVI. Filho de Gargantua,  outro comilão lendário, Pantagruel já nasceu com um apetite descomunal,  mamando diariamente o leite de 4.600 vacas. Volta e meia, ao longo dos  "Horríveis e Espantosos Feitos e Proezas do Renomado Pantagruel",  aparecem comilanças e bebedeiras em torno de mesas repletas de boas  carnes, iguarias e vinho abundante. Por isso, [...] "refeição  pantagruélica" ou um "apetite pantagruélico" [...] designar qualquer  exagero gastronômico”. 
[27] Ver
[29] Exemplo da Constituição Federal de 1988, artigo 37: “A  administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da  União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos  princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte”: [...] 
[30] Ver >>>
http://74.125.93.132/search?q=cache:7U6-NJb0gV0J:www2.uol.com.br/vyaestelar/preguica.htm+pregui%C3%A7a&cd=12&hl=pt-BR&ct=clnk
[31] Ver a íntegra em > > >
[32] Ver HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 26ª edição, 2009, p. 86-87.
[33] Este jornalista é publisher da revista Idéia Socioambiental  e diretor da consultoria “Idéia Sustentável: Estratégia e Inteligência  em Sustentabilidade”; é também professor de Marketing Social da FIA-USP.  
[35] Ver ERNOUT, Alfred e MEILLET, Antoine. Dictionnaire étymologique de la langue latine: histoire des mots. Paris: Klincksieck, 2001, p. 99-100.
[36] Ver Ética a Nicômaco. Editora Nova Cultural, São Paulo, 1996; Livro I,  Capítulo 7: o bem deve ser algo final e auto-suficiente; definição da  felicidade considerando a função própria do homem. Capítulo 8: esta  definição é confirmada pelos conceitos vigentes acerca
da felicidade. Capítulo 9: pode-se aprender a ser feliz? Ou se chega à felicidade pelo hábito? [...]
da felicidade. Capítulo 9: pode-se aprender a ser feliz? Ou se chega à felicidade pelo hábito? [...]
[37]  Ver MORAL, Irenaeus Gonzalez. Philosophia moralis. 4ª ed. Santander (Espanha): Ed. Sal Terrae, 1955, páginas 206-213. 
[38] Sobre o crescimento em igualdade, leia-se PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Democracia, liberdade, igualdade: os três caminhos. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 1979, 3ª. parte.
[39] Batalha da Alma, ao pé da letra em grego. Ver http://pt.wikipedia.org/wiki/Psychomachia
[40] Ver BENVENISTE, Émile. Le vocabulaire des institutions indo-européennes.  2 tomos Paris: Les Éditions de Minuit, 1969, t. 2, p. 107-110.
[41] HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 26ª edição, 2009.
[42] FAORO, Raymundo. Os donos do poder. Formação do patronato político brasileiro. 3ª edição revista, 8ª reimpressão. Editora Globo: São Paulo, 2008.
[43] Individualmente, contudo, os religiosos eram geralmente contra esse poder civil sobre a hierarquia eclesiástica.
[44] Extraído de >>>
[46] RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2ª edição, 1995, p. 120.
[47] São estes os tópicos possíveis do capítulo final de um livro — “As raízes da corrupção”.
 
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